Ação no entorno do Mercado de Água Fria, no Recife, divide comerciantes

É com desconfiança que alguns moradores de Água Fria receberam a operação da Prefeitura Municipal do Recife que visa organizar o entorno do mercado público do bairro. A operação de retirada, relocação e organização das bancas de ambulantes começou na terça-feira (29) e deve se estender pela semana.

O objetivo é liberar especialmente a Avenida Bebeirbe, que era ocupada por ambulantes, para a circulação mais fácil dos ônbius. “Fizemos o levantamento social aqui durante duas semanas. Só queremos reordenar, estamos analisando para que local podemos levar todos os comerciantes”, explica Marcílio Domingues, gerente de operação de apreensão da Diretoria de Controle Urbano do Recife (Dircon), órgão à frente da operação. Retiradas da avenida, as barracas foram levadas para as ruas Eudes Costa, João Uzêda Luna e Travessa do Dowsley.

As barracas começaram a ser retiradas logo cedo da frente do mercado público. Logo depois, toda a calçada foi lavada e o meio-fio, pintado. O técnico em telecomunicação Erivaldo Cavalcanti gostou do resultado, de encontrar a frente do mercado não somente limpa, como livre. “Só que daqui, no máximo, 30 dias vai estar tudo de volta. Era uma bagunça, sujeira, horrível, vai tudo voltar a ser como era, sempre é assim”, acredita Cavalcanti.

O motorista de caminhão José Paulo da Silva mal acreditou ao ver que as barracas que ocupavam a Avenida Beberibe e dificultavam o deslocamento dos veículos foram realmente retiradas. “O trânsito aqui é muito intenso, tinha muita mercadoria no meio da rua mesmo, dificultava a vida da gente”, diz o motorista.

Os aposentados Severino Gomes e Gildo Matias esperam que as mudanças permaneçam. “A gente tinha que disputar lugar com os carros. Reclamávamos com os feirantes e eles apontavam a rua para a gente”, reclama Gildo. “É preciso ter fiscalização. Já organizaram uma vez e no fim das contas ficou pior do que estava. O que me preocupa também é que tem muita gente que precisa desse lugar para trabalhar, para onde eles vão?”, questiona Severino.

Há gerações a família de Maria Luiza Soares vende caranguejos vivos. O comércio familia já havia sido relocado há alguns anos, para junto do Mercado de Água Fria. Com a organização, ela precisou sair de onde estava, e não faz a menor ideia de como vai ser agora. “Eles passaram a semana passada fazendo o cadastro. Dei meu nome, fiz tudo direitinho, mas estou sem ter onde vender. Não preciso de banca não, só do meu aquário. Pergunto e eles dizem que vão ver ainda”, reclama Maria Luiza.





Domingues explica que a diretoria ainda está estudando a questão de vendedores como Maria Luiza. “Os crustáceos não podem ficar expostos ao sol, são produtos muito percíveis. Estamos em busca de um local adequado, onede eles possam se instalar”, afirma o gerente de operação de apreensão da Dircon.

Além da Dircon, a operação teve também o apoio da Vigilância Sanitário do município, que aproveitou para fiscalizar os alimentos vendidos na feira. “O grande problema aqui era o comércio de carnes e peixes. Com essa nova organização, foi preciso retirar os freezers que eram utilizados. Para trabalhar, eles vão precisar se adeaquar, colocar um balcão refrigerado. Para isso, precisa também da Dircon para a questão do ponto de luz”, explica o gerente da Vigiância Sanitária, Luiz Paulo Brandão.

Trabalhando como feirante há 20 anos, Ivaldo Bispo trabalhava na Avenida Beberibe e foi deslocado para uma rua lateral. “Eu não estou preocupado, tenho ainda um lugar para trabalhar. Agora é organizar e vender”, afirma Bispo, que vende legumes e frutas.

A autônoma Ana Paula Ferreira não gostou da retirada das bancas em frente ao mercado e da relocação na rua lateral. “Passa carro, a gente fica mais exposto. Preferia quando era ali em cima da calçada, era mais seguro”, acredita Ana Paula.

Trabalhando há mais de 20 anos com feira nas imediações do mercado, Jonathas Santos concorda com a ação dos órgãos municipais. “Minha família a vida toda trabalhou aqui. Respeitamos as normas, os tamanhos das bancas, mas tem gente que não respeita, invade a rua. A gente quer trabalhar, lógico, mas precisa mesmo organizar, do jeito que está, não dá”, diz Santos.

Já Maria Lúcia Bezerra, que trabalha em uma paralela da avenida, se disse surpreendida pela ação da Prefeitura, que retirou barracas que tinham sido feitas com telhado e iluminação, como a dela. “Eles passaram dizendo que iam organizar, não que iam me tirar daqui. Eu não estou ocupando a rua, trabalho aqui há muitos anos”, reclama Maria Lúcia.

Cliente da barraca, Maria do Carmo Nascimento encara com desconfiança a organização. “Vão levar eles para onde exatamente? Ela [Maria Lúcia] não atrapalha ninguém, tem a banca dela arrumada. Não quero ter que ir até o [bairro do] Arruda para comprar verduras para a minha mãe”, diz Maria do Carmo.

Trabalhando com açougue dentro do Mercado de Água Fria, o comerciante José Aílton Rocha espera que a liberação da calçada em frente ao local seja permanente. “Era muita confusão, o cliente tinha até dificuldade de entrar aqui”, explica Rocha, que pede apenas uma coisa a mais. “A iluminação precisa de um pouco de atenção”, acredita.

Fonte: G1





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